Como cheguei a psicopedagogia?
Como a maioria das pessoas, na busca de ajudar os meus alunos. Mas no fundo eu não buscava isto. Mas sim ajudar a mim mesma.
Cheguei ao fundo poço quando me deparei com salas de aulas lotadas, pré-adolescentes gritando em cinco turmas de sexto ano. Planejava aula, preparava material, me enchia de entusiasmo e repetia sem parar "Hoje vai ser um dia diferente, minha aula vai ser boa, vou dar o meu melhor."
Mas normalmente até as 9:00 da manhã eu já estava estressada, cansada e desanimada para a próxima aula.
Perguntei várias vezes o porquê meus alunos estavam na escola e sem sucesso não tinham uma resposta, objetivo ou razão alguma para estarem ali. Levei atividades de alfabetização para alunos com 12 anos que passavam as aulas criando brigas e confusões porque não acompanhavam a aula e nada sabiam sobre os assuntos.
Sentia aflição em não conseguir me comunicar com os alunos com deficiência visual e nem auditiva, perguntava a coordenação da escola como ensinar história para aqueles alunos e não recebia ajuda ou menos incentivo que algo poderia ser feito. Até ouvi por diversas vezes que não me preocupasse porque devido a sua deficiência já estavam passados e que eu não deveria ficar tão tensa e apreensiva com suas aprendizagens.
Me sentia angustiada com os alunos que passavam de ano sem nada aprender, apenas para manter um sistema de educação pública que não reprova mas também não se preocupa com a qualidade do que se ensina. Ficava frustrada quando meus planejamentos não davam certo por falta de material ou acesso aos instrumentos didáticos.
Mas o que mais me deprimia era o comportamento dos alunos, sua falta de interesse e principalmente a baixa estima da maioria que não via sentido no ato de educar.
Me vi em quatros anos de educação pública frustrada, deprimida, doente, cheia de problemas ortopédicos pelo excesso de trabalho, desmotivada e cheia de dívidas.
Procurei dar o meu melhor. Realizei projetos, fiz inúmeras aulas com dinâmicas, vídeos, passeios, gincanas, músicas e danças. Mas nada disso impediu que eu mergulhasse numa profunda depressão. Minha aparência apática, sem vida demonstrava os problemas de saúde e a desilusão com a rumo da vida que eu escolhi.
Cheguei ao ponto de ter um colapso nervoso dentro da escola ao realizar provas de final de ano com uma turma. Ao passar mal fiquei com parte do corpo paralisado e fui parar na urgência onde o médico disse que tudo aquilo era stress.
Passei a me questionar quem eu era. O que me tornei. O que queria dali para frente. E a pergunta principal: Sou a pessoa que sonhei ser?
A saída de uma depressão não acontece de forma mágica mas foi o desejo de mudar quem eu havia me tornado que me motivou a sair de toda aquela situação. Então decidi fazer um curso de pós graduação e comecei a pesquisar cursos que mais explicavam ou tratavam sobre dificuldades de aprendizagem. Assim , deparei-me com a psicopedagogia, que nada sabia sobre esta área. Li algumas informações e decidi que era aquele curso que queria fazer.
Fazer a pós graduação em psicopedagogia ajudou-me a voltar a socialização com as pessoas, o desejo de ficar sozinha foi passando, me divertia com as aulas, as horas na lanchonete e os almoços com as colegas. Aos poucos fui entendendo que tudo que eu aprendia ali eu já praticava há muito tempo só não o fazia conscientemente e com fundamentação teórica. Fui me encontrado a cada nova disciplina, novas discussões e pesquisas.
Ao final do curso eu estava completamente curada da depressão, minha auto-estima preservada e revigorada. Minha aparência era visivelmente diferente do inicio do curso para o final. As pessoas notavam, comentavam e elogiavam as mudanças.
Mas tudo só aconteceu porque desejei , acreditei e busquei realizar de todas as formas que eu pude. Enfrentei o medo , a dor física e mental, a crítica e auto-crítica. Procurei dar aos outros o que eu sentia falta em mim, atenção e carinho.
Sou duas pessoas uma antes da psicopedagogia e outra depois. Antes eu era uma pessoa calada, esforçada mas cheia de complexos de inferioridade. Uma pessoa triste pq não conseguia me entender nem me aceitar com tantos defeitos. Era depressiva e cheia de remorso pelas pessoas que me machucaram e por tudo que não alcancei. Solitária porque me isolei num mundo onde as pessoas não pudessem me atingir para que minhas feridas não fossem magoadas.
Era uma pessoa perdida dentro dos meus próprios pensamentos e planejamentos. Confusa e fazia muita coisas que não me satisfaziam e não me deixavam felizes. Era amargurada porque eu lutava com todas as forças e tudo dava errado. Eu não conseguia ver os meus reais defeitos porque eu não valorizava minhas qualidades. Era uma pessoa sem perspectiva porque a cada ano abria um negócio que não dava certo. Minha estima era baixa porque só via o meu fracasso. Era desmotivada por só ouvia pessoas dizendo que eu não iria conseguir. Era ignorada por aqueles que tanto tentei ajudar por acreditar fazer o que era certo. Hoje sou uma pessoa completamente diferente.
Entender a mim mesmo foi minha primeira tarefa. Eu nunca tinha lido sofre dislexia e tdah foi quando tantas respostas eu encontrei para problemas de uma vida inteira de incompreensão daquilo que eu chamava de defeitos e de comportamentos que as pessoas não entendiam. Percebi que eu queria mais conhecimento e fui atras dele.
Busquei pessoas mas só encontrei nãos. Não tinha dinheiro pra comprar livros então passei a pedir mas não consegui nenhum. Criei o grupo psicopedagogiando em 2012 aí muita tudo mudou. Aquilo que não aprendi na faculdade aprendi com materiais e convivência com tantos profissionais. Li todas as 50 palestras que teve no grupo, conheci tantos psicopedagogos pelo Brasil e percebi o quanto eu podia ajudar. Percebi que eu sabia muita coisa. Que 15 anos de educação, gestão e coordenação de escolas tinhas me ensinando muito mais do que eu imaginava saber. As pessoas do grupo psicopedagogiando abriram seus corações e deixaram eu entrar.
Criamos a ação nacional de voluntariado de psicopedagogia., com atividades em praças públicas, camisetas, palestras, arrecadamos milhares de assinaturas para o projeto de lei 3512/10. Trocamos mais de 300 presentes de natal dentro do grupo, fizemos campanha de livros, até hoje eu já ganhei 35 livros de presentes que chegam de todo o país e que me deixam maravilhada com a amizade das pessoas. Fizemos três seminários onde pude conhecer amigos que so tinha contato no virtual. Estivemos em vários estados dando palestras e cursos.
A dor do abandono dos meus pais verdadeiros, o câncer e morte de meus pais adotivos, os abusos sexuais, as derrotas financeira, a fome, a miséria tudo foram compreendidos e aceitos. Tudo foram suportadas. Vi a mulher forte que sou.
Com o curso descobri que podia ir além. Não apenas era um curso para ajudar meus alunos ele me abria portas no mercado de trabalho. Foi então que montei o espaço ludicidade. De um pequeno consultório hoje transformou-se numa grande clínica. E aquela menina que mal sabia o que era psicopedagogia passou a lutar pela valorização desta linda profissão.
Só quem sofreu e sofre com transtorno de aprendizagem sabe os sofrimento que isto causa. Luto para que os psicopedagogos entendam que conhecimento é pra ser compartilhado. Sei que muito ainda tenho muito a contribuir. Muito a fazer. Vou fazer. Porque hoje sei da pessoa que eu sou. Sei e valorizo minha capacidade com consciência das minhas dificuldades .Hoje sou uma pessoa feliz, motivada, cheia de perspectiva, comunicativa, centrada, com foco e cheia de amigos e aberta para muitos mais.
As vezes me pego reflexiva e com lágrimas nos olhos ao ver que foi difícil mas que consegui superar tanta dor com as decepções e que dei a volta por cima da minha própria vida.
A psicopedagogia ajudou-me. Hoje a uso para ajudar outros. Faça isso você também.
Jossandra Barbosa
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querida Jossandra sua historia me motivou e esclareceu uma grande duvida que eu tinha, pois curso licenciatura em historia mais quero fazer uma pós em psicopedagogia, e não sabia que era possível e já estava ficando frustada, agora sei qual direção seguir muito obrigada
ResponderExcluirOlá! A sua história serve de acalento para muitos, acredito. Fiquei admirada, confesso. Sou educadora já faz um bom tempo. Porém somente agora obtive a oportunidade de cursar Psico. E buscando material para subsidiar minhas pesquisas, conheci seu trabalho. Estou encantada! Parabéns
ResponderExcluirpelo riquíssimo material que nos disponibiliza! Obrigada!
PARABÉNS JOSSANDRA VOCÊ É UM ÓTIMO EXEMPLO A SER SEGUIDO QUE BOM !
ResponderExcluirPrezada amiga Jossandra, sempre amei a entender para poder atender. Os valores familiares sendo a base de tudo, por pertencer a uma família grande causou-me inúmeros problemas, chegando a depressão, algo que vim a entender somente muitos não após os distúrbios. Tive que aprender a conviver com a dor, o desespero enfim um fim de poço.Consegui superar as síndromes o que me fez apaixonar pela empatia, e deu certo. Formei minha filha em uma faculdade publica de qualidade ,inseri a outra em economia também em uma faculdade publica, conclui minha formação pedagógica, e iniciei minha pós-graduação em Psicopedagogia. O conhecimento tem-me permitido ser paciente, acreditar que é possível em meio a adversidade propor algo que leve as pessoas a uma transformação pessoal,social e cultural, por isso aprendi e o tenho com pessoas como você, crer na real possibilidade de ver um mundo melhor, e somente a educação com professores(as)apaixonados são capazes de mudar esta realidade.
ResponderExcluirParabéns e muito sucesso! Voce merece que Deus continue te abençoando, me identifiquei quando voce falou :"Procurei dar aos outros o que eu sentia falta em mim, atenção e carinho". Só corajosos fazem isso.Estou começando na carreira de Psicopedagoga.Todos os dias acordo com um sorriso no rosto e vontade de vencer!
ResponderExcluirJossandra eu ingressei na pós graduação em psicopedagogia para ajudar os meus alunos que passam de um ano para o outro sem saber, ver crianças que estão precisando de ajuda e nao saber por onde começar o que fazer e muitaas vezes me sinto como você se sentia: o que eu estou fazendo nessa profissão? me vejo muitas vezes triste, desmotivada enfim sem saber que caminho seguir. Assisto seus videos e vejo o quanto vc ama o que faz, parabéns vc é maravilhosa... obrigada
ResponderExcluirQuerida Jossandra me identifiquei muito com seu relato, tbm sou historiadora e psicopedagoga, foi durante o estágio na disciplina de educação inclusiva que descobri que era nessa era que iria encontrar as respostas que buscava em minha prática diária em sala. Parabéns.
ResponderExcluirMinha linda,sua história é um pouco parecida com a minha,a diferença é que não cheguei a ter a depressão.Fiz a psicopedagogia por esta necessidade,de ajudar a alunos que muitas vezes são esquecidos em sala de aula,esquecido pelo sistema que existe.Mais,acredito que muito que quando o professor quer realmente ajudar ao seu aluno,ele faz a diferença na vida dele.Por isto,fico muito feliz que tem pessoas que a parti de um olhar diferenciado em sala,busca ajudar seu aluno.
ResponderExcluirMe identifiquei com sua história! Hoje recém- formada em psicopedagoga e iniciando minha carreira clínica busco ajuda com profissionais experientes e sua página tem me ajudado muito.
ResponderExcluirLinda história, também me tornei Psicopedagogo.
ResponderExcluirFiquei apaixonado pela Psicopedagogia, na verdade acho que todo professor deveria ser especialista na área.
ResponderExcluirQue história! Superar é preciso. Estou no início da carreira com muitas dúvidas, mas ao mesmo tempo vontade de aprender e encontrei aqui ainda motivos a mais para continuar!
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