Vamos
dar continuidade a nossa discussão sobre as intervenções
psicopedagógica. Hoje vamos abordar a relação terapeuta e sujeito/
aprendente em atendimento. Vamos dar preferência pela expressão
aprendente no lugar de paciente/sujeito/aluno ou qualquer outra
denominação.
Jossandra Barbosa
Psicopedagoga e Neuropsicopedagoga
|
.
Chamaremos de intervenção psicopedagógica o processo posterior ao diagnóstico psicopedagógico ( seja Dipp situacional, TA ou MA)*[1] com o objetivo de INTERVIR (ajudar, habilitar, reabitar, capacitar) o aprendente de forma terapêutica em um espaço terapêutico.
Clinica Sinapses em Teresina |
Estamos aqui considerando psicopedagogia, como campo amplo, sem divisões entre clínica ou institucional e abordaremos como espaço terapêutico todo e qualquer espaço de atendimento.
Chamaremos de sessões de intervenção, reuniões
e encontros de forma individual ou coletiva com aprendentes num
determinado espaço terapêutico, num determinado tempo estimado.
É
durante as sessões de intervenção que o psicopedagogo torna-se mais
íntimo sujeito em atendimento/tratamento. E é exatamente esta
proximidade que torna perigoso o trabalho do terapeuta/psicopedagogo. A
partir de agora chamaremos o psicopedagogo somente pela expressão
terapeuta , pois é assim que o sindicato dos psicopedagogos orienta que
ele seja chamado – TERAPEUTA DA APRENDIZAGEM.
O
Terapeuta em atendimento precisa ter cuidado com pequenos detalhes
como, por exemplo, chamar o aprendente por apelidos, utilizar o
diminutivo para explicar sobre algo contato afetivo, abraços, beijos e
outros carinhos como também expressões de raiva ou aborrecimento.
O
contato verbal e físico com o aprendente em atendimento deve ser
limitado por regras, estas colocadas ainda no enquadramento das sessões.
Enquadramento
é o momento inicial de qualquer sessão terapêutica, onde o terapeuta
estabelece um contrato oral de regras com seu/seus aprendente/s assim
como quaisquer tipos de bonificações.
Importante
ressalta que para o bom andamento de uma sessão terapêutica, o
aprendente precisa estar consciente de tem de tudo aquilo que está
acontecendo ao seu redor. Assim, o terapeuta precisa explicar o que ele
irá fazer em suas sessões. Sem
mentiras. Principalmente quando estamos falando de crianças, pois o
terapeuta pode ser levado a mentir para seu aprendente dizendo que ele
irá só “brincar”, por exemplo. Tal atitude do terapeuta trará
resistência quando for o momento desta criança usar um caderno, ou um
teste escrito ou até mesmo a EOCA[2] por exemplo.
Em
outras palavras o aprendente precisa querer o processo de intervenção e
não se assediado, comprado ou conquistado através de trocas e presentes
a fazer as atividades propostas durante a sessão.
Você
pode pensar ou estar dizendo: mas tem crianças que são resistentes as
atividades do atendimento, ou são mais agitadas e pode ser preciso
negociar com elas para que elas façam as atividades. Sim, isto pode
acontecer. Só que não pode virar regra do seu atendimento. O seu
relacionamento com seu aprendente deve ser de confiança e com regras bem
claras desde primeira sessão.
“Nesta
sessão iremos pintar, depois iremos jogar o jogo A e B , sendo assim
você só jogará o jogo A se tiver terminado a primeira atividade”
O terapeuta é que conduz a sessão e não o aprendente. Nunca esqueça disso.
Vamos falar sobre o contato com os pais. Pois é algo que o terapeuta deve ter muito cuidado.
Dentro
da sessão o contato com os pais deve ser desenvolvido com cautela e
precauções. Deve-se evitar dar o telefone ou e-mail pessoal aos pais,
assim como cumprimento com beijos e abraços, limite-se a um aperto de
mão forte que transmita confiança e credibilidade, evite conversas
paralelas em ambientes que não seja o espaço de atendimento, não permita
os pais dentro da sessão (a não ser que esteja planejada a presença
deles), não permita que os pais entrem sem ser anunciados, não permita
levar lanche para os filhos, bater na porta enquanto o atendimento está
sendo realizado não faltar, ou até mesmo chegar com antecedência e
querer conversar fora do espaço de atendimento.
Vou aqui contar-lhe um caso que me aconteceu:
Em
um atendimento, descobri que uma mãe ficava escondida atrás da porta do
consultório tentando ouvir o que eu falava com o filho dela. Foi uma
cena constrangedora quando abri a porta para pegar algo em outra sala e
me deparei com a porta entreaberta e com a mãe segurando no trinco. Ali
terminei a sessão naquele exato momento e me pus a conversar com aquela
mãe. Pois sem confiança não há processo de intervenção. Ela me
argumentou o medo de abuso sexual e traumas de infância. Percebi que eu
não havia feito um enquadramento adequado àquela mãe e então passei a
refazer todo o processo de enquadramento. Resultando em sessões
seguintes tranquilas e com a mãe na sala de espera.
Outras
situações podem ser colocadas aqui, da minha experiência profissional,
nos atendimentos e a relação com os pais. Por exemplo, pais que chegam
dizendo o que querem que você faça. Outros são pessimistas e vão dizendo
que nada dá certo e tem até aqueles que se acham mais competentes do
que você e já colocam a sua capacidade em jogo. Em todos estes casos é o
ENQUADRAMENTO[3] que definirá o rumo destas sessões.
Gosto
de dizer que a intervenção psicopedagógica é o Real objetivo do
trabalho do psicopedagogo. Ela que ele vai mostrar a sociedade o resultado do seu trabalho. É nela que o cliente vai perceber se seus objetivos foram ou não atingidos e daí buscar novos resultados que possam resolver o quadro de dificuldades que alguém possa estar enfrentando.
Há
aproximadamente um mês uma família chegou ao meu consultório e colocou
que estava mudando de terapeuta porque não virão nenhum resultado. Logo
então fiz duas perguntas a esta família: quanto tempo foram de sessões e
quais eram seus objetivos. Então me responderam que foram um mês e que o
objetivo que desejavam é que queriam que a filha, de cinco anos e com
autismo leve , fosse alfabetizada. Aqui nos leva de volta a importância
do enquadramento. Onde parte do terapeuta mostrar aos pais o que é a
intervenção, como ela funciona e o tempo que ela poderá levar. Por isso
que eu defendo o PIPp [4](
são projetos de intervenção com tempo , objetivos e metodologia
aplicada de acordo com a situação / local / aprendente) . Assim o
cliente fica ciente do que ele deve esperar como resultado.
Voltamos então para a temática central desta postagem: a relação sujeito e terapeuta. Vamos nos reportar a transferência e a contratransferência psicanalítica.
Durante
as sessões o profissional precisa ficar vigilante como delinear sua
relação com o aprendente/s. Voce sabia que você pode amar ou odiar o
aprendente? Se apaixonar ou tentar se afastar dele? Ou se apaixonar por
um dos pais? Ou por ambos?
Não
vou fazer aqui longas explicações sobre os processos de transferência e
contratransferências negativas e positivas durante o atendimento. Sobre
este tema vou deixar um vídeo para que vocês possam refletir sobre este
assunto.
Entretanto
, as intervenções podem demorar tempo suficiente para gerar sofrimentos
psíquicos. Vir a desencadear patologias no terapeuta, tensões e
frustações. O aprendente por sua parte, estará propenso a expor seus mecanismos de defesas , resultando as rejeições, birras, negações, ofensas e até mesmo crises que resultem em quebra de objetos e até dano físico ao terapeuta ou do terapeuta para o aprendente.
Vou
deixar o vídeo abaixo que fala sobre os mecanismos de defesa dentro do
atendimento psicopedagógico. Tanto o terapeuta pode desenvolver os
mecanismos de defesa intrapsíquico quanto o aprendente. Resultado no
fracasso ou mesmo retrocesso das sessões.
O psicopedagogo precisa conter suas opiniões ou mesmo suas transferências positivas
ou negativas frente ao aprendente devem ser verificadas e contidas com
frequente ( daí a necessidade do terapeuta fazer análise e supervisão
com outros profissionais, porque é normal que o mecanismo de defesa da
resistência ou da racionalização faça com ele não perceba os próprios
erros deste relacionamento).
Não
cabe ao terapeuta gostar ou não gostar do aprendente, mas sim buscar de
todas as formas contribuir para que as queixas iniciais sejam
amenizadas ou até mesmo eliminadas.
Aqui,
ainda, podemos ressaltar que muitos profissionais passam a ter contato
íntimo com seus clientes criando vínculos errados entre terapeuta e
aprendente. Ou terapeuta e pais deste aprendente.
Intervenções Psicopedagógicas no espaço clínico do Instituto Sinapses. Aprendente com 5 anos. Dificuldades de Aprendizagem. |
Quando
falamos de terapia para jovens, adolescente e adultos o motivo de
preocupação é ainda maior porque mecanismos de transferências como a
sublimação e a projeção é um risco constante durante as sessões.
Precaução
é a palavra chave da relação terapeuta e sujeito. Outros aspectos ainda
podem der falados a este respeito, acredito que eu escreveria um livro
só falando sobre este assunto. Um exemplo é a roupa do terapeuta. A cor
do jaleco, a forma como as terapeutas mulheres mexem o cabelo, abotoam o
jaleco, a escolha da peça intima, a altura do salto, a cor do batom, a
pulseira tudo influencia nos aspectos do inconsciente do sujeito em
processo terapêutico e também causa impacto no inconsciente do próprio
terapeuta.
Uma
sessão terapêutica é uma caixinha de surpresa cheia de detalhes e que
podem ter outras caixinhas fechadas dentro e que cada sessão surgem
outras caixas a serem abertas.
Cada
detalhe da sua sessão é importante. O sucesso dos meus objetivos seja
ele fazer uma criança ler como faze-lo querer ir a escola, ou melhorar
seu relacionamento com os pais são resultado de um conjunto de ações
verbais e não verbais do terapeuta.
Eu
poderia ainda continuar falando sobre este assunto, acredito que venha
construir outra postagem para darmos mais dicas de como o terapeuta
possa estar atento e evitar simbioses negativas e contratransferências
patológicas.
Já
realizei supervisões com terapeutas em prantos de choros porque se
sentem fracassados por não resolverem os problemas de seus clientes,
outros se sentem estressados com uma continuidade de sessões que não
sabem mais o que fazer e já vi até aqueles que chegaram a brigar com a
família por causa do aprendente e presenciei um caso que o terapeuta
entrou na justiça para ganhar a guardar de uma criança que era seu
aprendente. Parece impossível, não provável, impensado, absurdo???? Nada
disso. Tudo é possível dentro do espaço terapêutico. Assim como o
quarto familiar é uma alcova de segredos o espaço terapêutico também é.
Cheio de labirintos. Cheio de encantos. Cheio de lamentos.
Deixo a vocês o convite para discutirmos na próxima sessão estratégias para as sessões de intervenções.
Até
a próxima. Caso desejar, deixe seu feedback nos comentários. E muito
importante saber sua opinião sobre a postagem para assim pudermos
desenvolver outras. Nosso objetivo é juntos compartilhamos nossas
experiências.
[1]
Jossandra Barbosa desenvolveu a teoria do DIPp – processo do
diagnostico psicopedagógico dividido em três tipos de diagnóstico.
Situacional, Transtorno de Aprendizagem e Modalidade de Aprendizagem.
Através de um diagnóstico mais rápido, foram desenvolvidos instrumentos e
técnica onde as sessões possam ser realizadas em 2 e no máximo seis
sessões. Sessões que se tornam fáceis de serem vendidas aos clientes e
aplicadas a qualquer tipo de ambiente de trabalho. O Dipp já é aplicado
desde 2016 na clinica de atendimento do instituto sinapses em Teresina, e
é ensinado em todas as turmas de pós-graduação do instituto sinapses.
Também é aplicado no estágio 1 das turmas do sinapses. O livro Dipp
poderá ser comprado em breve e todo e qualquer psicopedagogo poderá
utilizar este novo método psicopedagógico.
[2]
EOCA – Entrevista operativa centrada na aprendizagem. Teste
psicopedagógico desenvolvido por Jorge Visca através da sua teoria
Epistemologia Convergente.
[3] A teoria do Enquadramento é trabalhada no livro Epistemologia Convergente de Jorge Visca.
Obrigada por visitar o Blog de Materiais Psicopedagógicos de Jossandra Barbosa
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